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segunda-feira, 12 de setembro de 2016

O nascimento da Filosofia "Do Mito à Razão"


*Por Cleiton Henrique

O que levou o homem, a partir de determinado momento de sua história, indagar-se sobre o mundo e fazer filosofia? O nascimento da Filosofia pode ser compreendido como o surgimento de uma nova ordem do pensamento, complementar ao mito, que era a forma de pensar dos gregos. Tudo era explicado a partir dos mitos, assim, a natureza era simplesmente considerada como algo divino. Partindo sempre do pressuposto de que “sempre existiu uma coisa” e por isso não se procura de modo racional conhecer a “real causa” de seus acontecimentos, pois é uma forma de conceber o Cosmos. Tudo isso foi uma visão de mundo que se formou de um conjunto de narrativas contadas de geração em geração por séculos e que transmitiam aos jovens a experiência dos mais velhos. Como narrativas, os mitos falavam de deuses e semideuses (heróis) de outros tempos e, desse modo, misturavam a sabedoria e os procedimentos práticos do trabalho e da vida com a religião e as crenças mais antigas. Nesse contexto, os mitos eram um modo de pensamento essencial à vida da comunidade, ao universo pleno de riquezas e complexidades que constituía a sua experiência. 

Enquanto narrativa oral, o mito era uma maneira de compreender o mundo que foi sendo construído a cada nova narração. As crenças que eles transmitiam ajudavam a comunidade a criar uma base de compreensão da realidade e um solo firme de certezas. O homem se sente infeliz ao conceber um mundo desordenado, vivendo no caos, sem causas, sem explicação, independentemente de quais sejam elas ou sem algo que justifique os acontecimentos. Por isso, os mitos são enfocados a partir de uma religião politeísta, sem doutrina revelada, sem teoria escrita, isto é, um sistema religioso, sem corpo sacerdotal e sem livro sagrado, apenas concentrada na tradição oral, sendo isso o que se entende por teogonia. Vale ainda ressaltar que essas narrativas foram sistematizadas no século IX por Homero e Hesíodo no século VII a.c. Ao aliar crenças, religião, trabalho, poesia, os mitos traduziam o modo que os gregos encontravam para expressar sua integração ao cosmo e à vida coletiva. Os gregos a partir do século V a.c viveram uma experiência social que modificou a cotidianidade da polis grega: a vivência do espaço público e da cidadania. A cidade constituía-se da união de seus membros para os quais tudo era comum. 

O sentimento que ligava os cidadãos entre si era a amizade, a filia, como resultado de uma vida compartilhada. A filosofia propriamente dita é fruto do espanto e da admiração. É a desbanalização do banalizado. Isto é, aquilo que “todo mundo” considera normal e cotidiano é posto em “xeque”. As verdades aceitas e tradicionais são questionadas. Tudo enfim, mesmo aquilo que julgamos mais vulgar é objeto de discussão. Por isso, a Filosofia é uma ciência que preocupa-se com a totalidade, ou seja, sua pretensão é não aceitar passivamente as imposições do mundo sem antes investigá-las e questioná-las. Mesmo a narrativa mítica tentava, ainda que de forma não-racional responder as questões fundamentais para o homem, tais como: a origem e o fim de todas as coisas, a condição do homem e as suas relações com a natureza, com o outro e com o mundo, enfim, o sentido de existir. E esses foram e continuam sendo problemas que a Filosofia desenvolve no decorrer de sua história. Por isso, é importante que cada indivíduo assuma uma atitude filosófica e se coloque a pensar e refletir sobre tudo o que norteia a sua existência, não apenas tendo em vista formular respostas ou explicações, mas pelo próprio prazer de indagar-se. 

*Cleiton Herrique: É graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - Câmpus Curitiba - em Licenciatura em Filosofia.

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